Eu não educo meu filho para a independência
Eu não educo meu filho pra independência e sim para a autonomia, porque um ser humano nunca será independente. Somos todos seres sociais que precisam uns dos outros para viver. Quem vem me dizer que devo dar menos colo para o meu bebê, quem sugere que eu o deixe em um carrinho em nome de uma liberdade que eu não desejo, quem diz que cama compartilhada é perigoso, quem diz que choro é birrinha manipuladora, quem se incomoda com o excesso de amor que dou pra ele, enfim, tem uma compreensão das necessidades de um bebê bem diferente da minha.
A minha compreensão (respaldada por evidências científicas e pela minha intuição) é a de que bebês precisam ser atendidos em suas necessidades de contato (pele, colo e peito) para que se sintam seguros e para que, assim, comecem a desenvolver a autonomia. Não sou eu que tenho que forçar esse aprendizado, a autonomia é uma característica inerente ao ser humano e a minha plena confiança nisso faz com que eu sinta prazer em ter a minha liberdade temporariamente limitada em prol do desenvolvimento da liberdade dele. Gradualmente ele se desenvolve. Eu confio na potência do meu filho. Confiança faz parte do amor. Amor é o oposto do medo. A minha liberdade, hoje, está em amar meu filho e faço isso por meio do corpo. Eu o amo com a pele, com o colo, com o seio.
Quando ele aprender a ouvir e a falar, quando ele aprender a me amar e a se relacionar com o mundo por meio das palavras, a necessidade da pele, do colo e do peito vai diminuir. Até que o seu vocabulário aumente e meu peito não seja mais necessário. Porque essa é a função do seio: nutrir e acalmar. Até que ele fique fluente na língua portuguesa e saiba verbalizar suas frustrações e inseguranças e não precise gritar e chorar e vir pro meu colo porque sabe que um diálogo resolve seu problema mais rapidamente. Até que ele não caiba mais dentro do meu colo. E mesmo depois de aprender a escrever, ele sempre terá as minhas mãos para um cafuné nos momentos em que palavra nenhuma funcionar.
Eu não o educo para a independência e sim para que ele seja uma pessoa confiante em sua própria capacidade de lidar com tudo o que acontecer com ele, inclusive com as frustrações. Isso é autonomia. Eu o educo para que ele saiba confiar em si mesmo. Para isso, ele precisa de alguém que confie nele antes. Eu confio no meu filho, acredito que seu choro é um chamado que merece ser ouvido, não birrinha. E sei o que ele quer quando me chama: colo, pele, peito. Eu o educo para que a partir de sua autoconfiança, ele tome decisões que tragam consequências positivas para sua vida e para o coletivo. Eu o educo para que ele também aprenda a confiar nas pessoas do mesmo jeito que quero que ele confie em mim. Eu o educo para que ele tenha uma referência cristalina de amor. Eu o educo para que ele entenda que eu não sou perfeita, que tenho direito ao erro tanto quanto ele, mas que eu busco desenvolver cada vez mais a minha capacidade de acertar, porque sempre é possível ser uma pessoa mais consciente. Não para ser independente.
A independência é a ilusão do século XX. Eu educo o meu filho para o século XXI. Para o hoje. E para o amor que é o que une todos nós apesar das diferenças. O amor infinito e atemporal.
18 Respostas para “Eu não educo meu filho para a independência”
Uau, que texto!!
Como se eu lesse o que anda martelando aqui na minha cabeça há dias, haha
Eu, grávida de 15 semanas, penso tanto nisso, e concordo plenamente com você. É um medo extremo que se tem de criar filhos dependentes e, veja bem… o que fazem para a “independência”, muitas vezes, causa exatamente o contrário! Porque a gente chora, “faz birra” e sente falta é daquilo que não tivemos, né?! Ninguém reclama por aquilo que tem!
Fora que é uma delícia dar colo, amor, atenção pra quem a gente mais ama, não vejo motivos para não fazer 🙂
Beijo!
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Exatamente, Maria! As pessoas, com medo de criar pessoas dependentes, acabam criando pessoas… dependentes: do olhar do outro, de atenção, de drogas, tudo para tapar o buraco que uma educação baseada no medo deixou no peito dos filhos. Eu prefiro sempre questionar meus medos e colocar o amor no lugar. Boa gravidez, bom parto e uma linda maternidade pra você! ♥
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Exato!
Nossa, o texto todo além de lindo, é mto bem colocado!
Adorei.
Vou te seguir por email…
Gra1nde abraço!
Lola!
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Simplesmente lindo! Concordo plenamente qdo diz “as pessoas, com medo de criar pessoas dependentes, acabam criando pessoas… dependentes…”
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Desculpe, errei teu nome: Marina! :p
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Perfeito!!!
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lindo texto, lindas palavras! concordo com cada uma delas!!! dar amor incondicional aos nossos filhos só os torna confiantes e seguros!!!
🙂
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Isso! Porque nos privar do amor em nome de uma suposta independência? Que ninguém tem, como bem diz o texto, somos seres humanos e dependemos totalmente das relações para sobrevivermos, precisamos de contato, de pele, corpo, saliva, dente, unha! Nossos hormônios e nossos corpos pedem isso, e desde pequenos somos reprimidos a não usar nosso corpo para o contato, e vamos crescendo com toda essa repressão, e mais tarde isso nos afeta, nas nossas relações sexuais inclusive! pra mim amamentar é um ato sexual mesmo, qndo eu e maria alice (terça-feira irá fazer 8 meses!) estamos nestes processo, barriga com barriga, ela mamando, nossos olhares, ela com as suas mãozinhas pegando no meu cabelo, na minha blusa, me acariciando, é uma relação de amor, de contato, e ela n gosta de ser interrompida e nem q a distraiam, aliás, imagina, vc trepando e chega algm lá p te distrair, te interromper? quem gosta? brocha né? pois é, amor gera amo, mais amor por favor mesmo.
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Fabuloso! Estou absolutamente sem palavras! Os meus parabéns por tão rica consciência. Abraço muito forte
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AMEI! posso republicar o seu texto no meu blog com o link para o seu? claro, e com os devidos créditos? beijos e obrigada
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Claro, à vontade 🙂
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MILF, confesso que fiquei bem confusa com esse texto…independência e autonomia não são palavras interligadas? não as vejo como um contraponto e sim como relacionais…como se fossem irmãs. ( desculpe, não captei…). bj
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Autonomia refere-se à capacidade de gerir a própria vida e de tomar decisões. Independência refere-se à capacidade de realizar atividades cotidianas sem auxílio.
😉
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Nossa adorei sua mensagem. Eu me sinto assim como mãe. O que desejo para minhas filhas? Que elas possam ser pessoas melhores a cada dia, uma evolução por vez e a cada ciclo da vida. Um dia ouvi uma pessoa dizer que minha filha de 4 anos, que estava chorando, estava grande demais para se colocar no colo. E eu perguntei? Por acaso ela deixou de ser minha filha porque tem 4 anos? Naquele momento, ela queria um carinho da mãe, o apoio que só a mãe consegue dar, em um momento de insegurança e angustia de estar em um lugar diferente com pessoas diferentes…não era birra. E se fosse? Amaria e acalmaria ela no meu colo o tempo que fosse preciso. Acho que nós mães precisamos de mais textos como o seu para “fortalecer” este vinculo que só existe entre os pais.
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PERFEITO!!!
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Amei era tudo que eu queria dizer, obrigada pelas palavras.
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É tudo que eu queria dizer a algumas pessoas que se entrometem na maneira que educo meu filho. Sabias palavras..
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[…] (texto retirado do blog MILF) […]
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